sábado, 26 de março de 2011

Involução das espécies

                A banda é Restart, “fenômeno” teen. O integrante é Thomas, o baterista. A fala é a seguinte: “... imagina você tocar no meio do mato assim... sei nem se tem gente, civilização...seria bem legal tocar pra parte que a gente acha que não tem nada.” O lugar do qual ele estava falando não era outro planeta ou a Terra em seus primórdios, mas sim a Amazônia.
                Quanto a essa perola, digo que felizmente nomes da nossa intelectualidade não precisaram viver para presenciar tal situação. Por outro lado, alerto que, infelizmente, quando Nelson Rodrigues, um grande cronista esportivo brasileiro, concluiu ainda em 1969 que há uma “ascensão espantosa e fulminante do idiota”, ele não estava errado. Se fosse vivo, estaria vendo a confirmação do seu presságio.
                Isso porque não é apenas na esfera do entretenimento que há uma decadência do intelecto social, pois na própria política a inocuidade reina. No processo eleitoral do ano passado, Weslian Roriz pagou de comediante no debate entre os candidatos a governadores do Distrito Federal. Despreparada, ela se perdeu nas perguntas, nas respostas e nos papeis que ela não achava. E se o que se precisava ganhar era a confiança do eleitor, pelo menos a risada ela conseguiu quando relacionou a cor do estúdio no qual ocorreu o debate à cor do seu partido. Mas apesar de Roriz não ter sido eleita pelo DF, o estado de São Paulo elegeu Tiririca para trabalhar na Câmara Federal, revelando um quadro de letargia sócio-intelectual. Porque afinal, qual é a preparação desse camarada para discutir, votar leis e agora participar da Comisao de Educação?
Qual seria então o motivo para ser cada vez mais banal atitudes depreciativas em uma época na qual temos todos os artefatos para apenas avançar? Ironicamente, esses próprios elementos são os responsáveis por isso tudo. De alto nível intelectual são os poucos que fazem a tecnologia, porque a maioria que apenas a utiliza está se acomodando e atrofiando sua capacidade de ir além e superar seus próprios limites.
Os tempos hoje são de informações prontas, noticias fulgazes e leituras superficiais. Poucos dedicam parte do seu tempo ao ócio produtivo, e assim vocabulários são encurtados, palavras não são entendidas e noção de senso crítico é perdida.
Por tudo isso, acredito que está prestes a surgir um novo Darwin, só que agora para explicar a involução das espécies.
Ah, se todo homem tivesse ainda um quê de Chico Buarque salpicado com umas boas ironias  machadianas.

domingo, 20 de março de 2011

Belbellita

Por trás de uma fragilidade singela esculpida em um lévido bater de asas há uma borboleta persistente e forte. Não sendo diferente dos outros seres vivos, o darwinismo explica que as borboletas selecionadas pelo meio sao aquelas que dentro do seu casulo, formado por fibras resistentes, foram capazes de desenvolver seus músculos a partir do esforço para abandonar o lugar que lhe acolhia. Ela amadurece ao passo de que quando consegue se libertar é capaz de realizar um vôo que parece, aos nossos olhos, não lhe custar esforços num paradoxo de graça e força.
Poderíamos ser como as borboletas, sair de um só casulo por toda a vida, mas como seres pensantes que somos - pelo menos deveríamos ser - e por agirmos presumidamente mais pelo racional, temos consciencia de que precisamos estar sempre abandonando casulos. Digo no plural porque saimos de um, mas estamos ainda dentro de muitos outros. Cada casulo abandonado é uma conquista que precisamos por muitas vezes sozinhos, como as borboletas, alcançar. Certamente, exige muito esforço, persistencia, segurança em si, força de vontade, coragem, crença... e tudo mais relacionado a sopros de impulso na vida.
E por mais que existam pessoas do nosso lado querendo nos ajudar a alcançar nossos objetivos, elas podem até fazer alguma coisa por nós, mas jamais seríamos o às que podemos ser se nao ousarmos desafiar os nossos supostos limites.
Há casulos que só nós podemos romper ou não entenderemos o propósito de tanto tempo de preparação para só então alçarmos um belo vôo. É assim para amar e perdoar plenamente, por exemplo. Não adianta ninguém lhe pedir amor ou perdão, pois o seu coração é que sabe a hora certa de planar.
Podemos ser como elas, sair de um casulo e voar após tanto esforço para atingir uma meta, mas só se lutarmos por isso. E podemos realçar nossos contornos e cores específicas de um espectro individual que permite a cada um dar à vida o tom que lhe convém.

domingo, 13 de março de 2011

sem pé nem cabeça

a empregada entra no elevador. o morador, incomodado com a presença dela, a ''convida'' para se retirar. a empregada sai, chora e fica constrangida com a situação. essa é realidade vergonhosa de um preconceito asqueroso que infelizmente ainda cabe no Brasil.
tal acontecimento nos leva a refletir sobre o fato de a discriminação sócio-econômica não ser enfrentada no nosso país como deveria. apesar de vivermos em uma nação na qual apenas 10% dos mais ricos detém metade da renda nacional, o preconceito, mesmo velado, é pertinente na nossa sociedade. por isso, chegamos à essa necessidade coerente, apesar de ser o cumulo do absurdo criar um projeto de lei - do deputado Roberto Lucena, do PV/SP- contra a discriminação no uso de elevadores social e de serviço.
para salientar essa discussão, veja que ao falarmos em discriminação racial, rapidamente atitudes são tomadas para atenuar esse tipo de preconceito- que muitas vezes tem suas dimensões ampliadas- como a criaçao de cotas nos vestibulares para negros e índios. porém, quando tratamos de discriminação social, algumas cabeças prepotentes acham isso irrelevante e chegam a defender a segregação até mesmo no simples uso de um elevador: moradores por um, empregados por outro.
entretanto, o elevador de serviço deve ser utilizado obrigatoriamente no transporte de carga e animais, e não por pessoas em serviço, a exemplo de uma empregada doméstica que chega ao prédio para trabalhar. afinal, porque ela, que é um ser humano igual a você, não pode trafegar no elevador social cujo nome faz referencia ao uso por pessoas?
reforando essa linha de raciocínio, uma enquete do Jornal Hoje revela que 87% das pessoas que participaram acreditam que a discriminação acerda da distinção do uso de elevadores deve ser punida, como previsto pelo projeto de lei que entrou em votação semana passada.
portanto, é bom saber que apesar da injúrias injustificaveis, há pessoas que prezam por não ferir o respeito e a dignidade humana do outro. se a sociedade nao fosse tao complicada, essa questao nem entrava em discussao.